Caso no onibus
"Um belo dia de sol eu estava voltando da faculdade. Eu havia feito uma apresentação e estava cheia de sacolas. O ônibus estava mais do que lotado e eu, com meu super tamanho e força, não estava aguentando tanta sacola e ainda a minha mochila pesada. Então, uma senhorinha com aproximadamente os seus sessentas anos se ofereceu para segurar as minhas sacolas. Como meu braço já estava dolorido, eu dei a minha sacola para ela por no colo. Acabei comentando que era do meu trabalho da faculdade. Então, ela me deu um sorriso e disse:
'- Ah! Como eu queria estudar.' - com uns olhinhos marejados.
Eu não falei nada porque não sabia mesmo o que falar.
'- Eu queria estudar. Mas, quando eu era pequena eu apanhei muito do meu irmão' - ela falou triste.
Eu a olhei espantada sem saber o que falar. '- Sinto muito'. - falei no final para quebrar o silêncio desconfortável.
'- Aí eu comecei a ter uns ataques.' - ela falou calmamente. E eu lá muda, só balançando a cabeça e com os olhos esbugalhados. '- Aí eu tinha ataques no colégio e o professor chamou os meus pais e disse que eu não podia mais estudar, aí meus pais me tiraram da escola'.
'- Sinto muito.' - eu falei mais uma vez, sem saber bem o que dizer. Eu estava um pouco desconfortável, porém sentia muito de verdade por ela.
Foi nesse exato momento que um lugar do lado da janela, no banco da frente do que ela estava (mas, ela estava do lado do corredor), ficou vago. Então, eu peguei minha sacola, agradeci e fui sentar. Confesso ter me sentido um pouco aliviada por cortar a conversa, eu não sabia mais o que falar e estava cansada de ficar em pé.
Porém, passados alguns minutos, o cara que estava ao meu lado saiu e a senhorinha se sentou no lugar dele, retomando a nossa conversa.
'- Eu gostava muito de estudar' - ela começou. - 'eu gostava de contas'.
Eu comentei sobre eu não ser muito boa em contas. Depois, a gente mudou um pouco de assunto. Ela falou um pouco sobre a vida dela, sobre ela viver com a mãe e cuidar dela. Falou sobre ter se dedicado a cuidar do pai, já falecido, e da mãe idosa por causa da doença. Falou sobre ter se conformado com a sua vida parada, sem trabalhar, sem se dedicar a nenhuma profissão específica e sobre nunca ter se casado. Ela comentou também que ela mesma pintou as paredes da casa da mãe. Durante a conversa, eu fiquei meio receosa sobre o que responder a essa senhorinha, então, apenas acenei na maior parte das vezes. Mas, penso agora o quanto essa mulher deve ter sofrido e, sim, eu a admirei por estar sobrevivendo.
'- Hoje eu estou melhor.' - ela confessou para mim.
'- Que bom!' - eu exclamei.
'- A Igreja me ajudou a me curar.' - ela disse.
'- Que bom. ' - eu falei. Não que eu não acredite em curas vindas da fé. Eu creio e eu tento respeitar a fé que cada um tem e também a sua falta.
'- Antes eu tomava 27 comprimidos de calmante por dia". - ela falou sorrindo.
Eu esbugalhei os olhos, assustada. '- Sim.' - murmurei.
'- Mas, depois da operação e da Igreja, hoje eu só tomo 13 comprimidos de calmamente por dia.' - ela falou vitoriosa. Eu realmente acredito que seja uma vitória.
'- Ah! Muito bom. ' - eu falei acreditando que aquilo era bom, mas realmente assustada com a revelação.
'- Eu fui diminuindo aos poucos.' - a senhorinha explicou.
'- Oh, aos poucos... No fim você nem vai mais precisar.' - eu disse sem ter muita certeza disso. Afinal, não sabia o que ela tinha.
'- O meu ponto é o próximo.' - ela disse.
Eu não falei nada, só acenei.
'- Venha me visitar na minha Igreja, é descendo essa rua'. - ela me convidou. Eu agradeci acanhada. Certo, eu nunca fui a visitar na Igreja, mas é eu também não lembro a rua que era.
'- Fique bem.' - ela me disse.
'- Obrigada.' - eu agradeci.
'- Não, você tem que dizer: Aleluia!' - ela me falou cheia de vigor.
Eu falei um 'sim' bem tímido.
'- Não, você tem que dizer: Aleluia!' - ela insistiu. '- Diga Aleluia!'
Eu estava tão acanhada, mas mesmo assim eu disse: 'Aleluia!', porém saiu mais alto do que eu planejei e todos no ônibus me encararam, o que só fez eu ficar com mais vergonha ainda. A senhorinha me puxou pelo rosto e me deu um beijo na minha bochecha, agradeceu e disse 'Aleluia' e desceu do ônibus em seu ponto. Eu a vi descendo a rua, certamente indo para a sua Igreja. Eu sorri um pouco aliviada, um pouco constrangida, um pouco admirada e então, fechei os olhos e esperei em silêncio até o ônibus chegar no ponto da minha casa."
Essa história realmente aconteceu.
'- Ah! Como eu queria estudar.' - com uns olhinhos marejados.
Eu não falei nada porque não sabia mesmo o que falar.
'- Eu queria estudar. Mas, quando eu era pequena eu apanhei muito do meu irmão' - ela falou triste.
Eu a olhei espantada sem saber o que falar. '- Sinto muito'. - falei no final para quebrar o silêncio desconfortável.
'- Aí eu comecei a ter uns ataques.' - ela falou calmamente. E eu lá muda, só balançando a cabeça e com os olhos esbugalhados. '- Aí eu tinha ataques no colégio e o professor chamou os meus pais e disse que eu não podia mais estudar, aí meus pais me tiraram da escola'.
'- Sinto muito.' - eu falei mais uma vez, sem saber bem o que dizer. Eu estava um pouco desconfortável, porém sentia muito de verdade por ela.
Foi nesse exato momento que um lugar do lado da janela, no banco da frente do que ela estava (mas, ela estava do lado do corredor), ficou vago. Então, eu peguei minha sacola, agradeci e fui sentar. Confesso ter me sentido um pouco aliviada por cortar a conversa, eu não sabia mais o que falar e estava cansada de ficar em pé.
Porém, passados alguns minutos, o cara que estava ao meu lado saiu e a senhorinha se sentou no lugar dele, retomando a nossa conversa.
'- Eu gostava muito de estudar' - ela começou. - 'eu gostava de contas'.
Eu comentei sobre eu não ser muito boa em contas. Depois, a gente mudou um pouco de assunto. Ela falou um pouco sobre a vida dela, sobre ela viver com a mãe e cuidar dela. Falou sobre ter se dedicado a cuidar do pai, já falecido, e da mãe idosa por causa da doença. Falou sobre ter se conformado com a sua vida parada, sem trabalhar, sem se dedicar a nenhuma profissão específica e sobre nunca ter se casado. Ela comentou também que ela mesma pintou as paredes da casa da mãe. Durante a conversa, eu fiquei meio receosa sobre o que responder a essa senhorinha, então, apenas acenei na maior parte das vezes. Mas, penso agora o quanto essa mulher deve ter sofrido e, sim, eu a admirei por estar sobrevivendo.
'- Hoje eu estou melhor.' - ela confessou para mim.
'- Que bom!' - eu exclamei.
'- A Igreja me ajudou a me curar.' - ela disse.
'- Que bom. ' - eu falei. Não que eu não acredite em curas vindas da fé. Eu creio e eu tento respeitar a fé que cada um tem e também a sua falta.
'- Antes eu tomava 27 comprimidos de calmante por dia". - ela falou sorrindo.
Eu esbugalhei os olhos, assustada. '- Sim.' - murmurei.
'- Mas, depois da operação e da Igreja, hoje eu só tomo 13 comprimidos de calmamente por dia.' - ela falou vitoriosa. Eu realmente acredito que seja uma vitória.
'- Ah! Muito bom. ' - eu falei acreditando que aquilo era bom, mas realmente assustada com a revelação.
'- Eu fui diminuindo aos poucos.' - a senhorinha explicou.
'- Oh, aos poucos... No fim você nem vai mais precisar.' - eu disse sem ter muita certeza disso. Afinal, não sabia o que ela tinha.
'- O meu ponto é o próximo.' - ela disse.
Eu não falei nada, só acenei.
'- Venha me visitar na minha Igreja, é descendo essa rua'. - ela me convidou. Eu agradeci acanhada. Certo, eu nunca fui a visitar na Igreja, mas é eu também não lembro a rua que era.
'- Fique bem.' - ela me disse.
'- Obrigada.' - eu agradeci.
'- Não, você tem que dizer: Aleluia!' - ela me falou cheia de vigor.
Eu falei um 'sim' bem tímido.
'- Não, você tem que dizer: Aleluia!' - ela insistiu. '- Diga Aleluia!'
Eu estava tão acanhada, mas mesmo assim eu disse: 'Aleluia!', porém saiu mais alto do que eu planejei e todos no ônibus me encararam, o que só fez eu ficar com mais vergonha ainda. A senhorinha me puxou pelo rosto e me deu um beijo na minha bochecha, agradeceu e disse 'Aleluia' e desceu do ônibus em seu ponto. Eu a vi descendo a rua, certamente indo para a sua Igreja. Eu sorri um pouco aliviada, um pouco constrangida, um pouco admirada e então, fechei os olhos e esperei em silêncio até o ônibus chegar no ponto da minha casa."
Essa história realmente aconteceu.



Comentários
Eu nao sabia dessa, tinha confundido com a do busao. Confesso q fiquei meio chateada comigo mesma, pq eu reclamo tanto de ter q estudar... mas tbm confesso q ri pelo seu constrangimento, hauhauhauahuahua. Eh horrivel qdo a gente nao sabe o q falar. Eu tenho certeza q ficaria na mesma situaçao, puts... Acho q só assim mesmo pra gente olhar no espelho e ver q a nossa vida nao eh tao ruim assim...